Por Isadora Franco
Como é horrível essa pressão de todo mundo te chamar de louca e colocar essa
energia horrorosa pra cima da gente quando falamos que vamos parir naturalmente, mas já estou tão acostumada com isso com meu pouco tempo de vida...
Já conheci tanto disso, que só a minha mãe eu não consigo mandar para aquele lugar (hehe, minha mãe é um problema na minha vida)...
Um dia a gente acaba encontrando gente "que-nem-a-gente" (foi assim que encontrei meu noivo, que é um companheiro mais louco que eu até...hehehehe) e acaba encontrando um lugar onde pode debater saudavelmente e sem julgamentos.
Sobre essa questão do julgamento alheio sobre os NOSSOS partos, eu tenho muito, muito, muito o que dizer...
Estamos numa cultura que nos arranca direitos enquanto mulheres e seres humanos, e em relação ao parto, eu acredito que isso se manifeste em duas vias:
A primeira é a medicina "científica" e alopática, tão arrogante e que tanto combina com esse jeito maluco que vivemos hoje, em que se combinam séculos e séculos de tabus em relação ao corpo, que nos fizeram fechar os olhos e não prestar atenção em nós mesmos.
Com o ritmo louco de trabalho e vida que levamos, em que trabalhamos muito mais do que ficamos com as pessoas que amamos, fazendo o que queremos, só podemos entender de uma coisa se não temos um canudo da medicina: não somos capazes de compreender e escolher o que fazer com nossa saúde.
A medicina atual buscou suas fontes em nossas avós e nossos indígenas, deles expropriou o conhecimento e nas nossas matas se embrenha para fazer lucro, muito dinheiro.
Existe uma cultura que sustenta isso, que sustenta a ideologia da cesárea e das intervenções, assim como a cultura de se tomar mil analgésicos e não suportar a dor.
Essa concepção de dor como algo insuportável me parece muito conveniente tanto a indústria farmacêutica como ao ritmo louco de trabalho ao qual estamos submetidos, em que não nos é permitido seguir o ritmo do corpo.
A segunda razão é o machismo que ainda permeia nossas mentes. Simplesmente somos vistas como seres quebrados e passíveis de problemas, nosso corpo é tratado como uma coisa hiper frágil o tempo todo, e agora além de tudo somos tidas como incapazes de fazer algo para o qual fomos projetadas: o parto.
Como se já não bastasse nos dizerem que somos menos capazes na escola (isso é sério, tem muita pesquisa falando de "fracasso" escolar atribuindo o "fracasso" das meninas a uma certa incapacidade natural, quando na verdade, a maior fracassada é a escola, mas isso é outra história), que somos incapazes de ter força física e nos defender sozinha, que somos incapazes de dirigir bem, incapazes de sentir prazer sexual, incapazes de sermos amigas (ai, como eu odeio quando falam que amizade de mulher não existe!!), agora vem me dizer que eu sou incapaz de PARIR??????
Desde que os primeiros homo sapiens apareceram, as mulheres estão parindo, que palhaçada é essa agora???
Pois é, séculos e séculos de machismo na construção de nossa sociedade, séculos de machismo, construíram nossa educação de hoje, e brigar com isso é, dentro de nossas
próprias mentes, muito, muito, muito difícil, mas é necessário!!
Precisamos nos unir, precisamos conversar, expor tudo o que sentimos, lutar e nos dar força, segurar as mãos umas das outras, e aí levantar a bandeira da dignidade e da vontade.
Na verdade, há umas décadas atrás, parto era uma coisa horrorosa de verdade, feito por pessoas com pouca ou nenhuma experiência em parto. Imaginem uma freira e seus tabus ultra-machistas e anti-sexuais da Igreja numa coisa tão sexual como um parto, é quase um estupro! Nesse contexto, estando ainda numa sociedade machista, médicos de branco te cortando sem sentir nada, frios que nem uma pedra, são realmente melhores!
As pessoas estão bem acomodadas paradas, sem lutar, numa eterna anestesia, num marasmo, numa frigidez, e depois não sabem de onde vem a maior enfermidade de hoje: a depressão.
Sentir é, na nossa sociedade, uma coisa proibida, uma coisa que atrapalha, um problema, um tabu. Dor e prazer são coisas indissociáveis, são consequência de estarmos de coração e corpo e alma abertos para o mundo e focados em nós mesmos.
Hoje fiz ultrassom com uma médica nova, que ficou me perguntando se eu acho que aguento a dor, com um "risinho" de canto. Falei que já há tempos tentava respeitar o ritmo do meu corpo para sentir a dor (no caso, das minhas cólicas de sempre, nada fracas), e que faço um enorme esforço já há uns anos para desconstruir a idéia de dor que temos por aqui. E ela se calou.
O medo sempre foi uma eficiente ferramenta de repressão. Mas busquemos nos nossos sentidos, no carinho, na cumplicidade, a energia para ter coragem.
Isadora Franco tem 22 anos, está grávida de 24 semanas de um menininho, é uma feminista se redescobrindo como mulher neste estado de graça que é a gravidez. Tem um blog também, onde fala de muitas coisas além de gravidez: http://divinastetas.blogspot.com
Como é horrível essa pressão de todo mundo te chamar de louca e colocar essa
energia horrorosa pra cima da gente quando falamos que vamos parir naturalmente, mas já estou tão acostumada com isso com meu pouco tempo de vida...
Já conheci tanto disso, que só a minha mãe eu não consigo mandar para aquele lugar (hehe, minha mãe é um problema na minha vida)...
Um dia a gente acaba encontrando gente "que-nem-a-gente" (foi assim que encontrei meu noivo, que é um companheiro mais louco que eu até...hehehehe) e acaba encontrando um lugar onde pode debater saudavelmente e sem julgamentos.
Sobre essa questão do julgamento alheio sobre os NOSSOS partos, eu tenho muito, muito, muito o que dizer...
Estamos numa cultura que nos arranca direitos enquanto mulheres e seres humanos, e em relação ao parto, eu acredito que isso se manifeste em duas vias:
A primeira é a medicina "científica" e alopática, tão arrogante e que tanto combina com esse jeito maluco que vivemos hoje, em que se combinam séculos e séculos de tabus em relação ao corpo, que nos fizeram fechar os olhos e não prestar atenção em nós mesmos.
Com o ritmo louco de trabalho e vida que levamos, em que trabalhamos muito mais do que ficamos com as pessoas que amamos, fazendo o que queremos, só podemos entender de uma coisa se não temos um canudo da medicina: não somos capazes de compreender e escolher o que fazer com nossa saúde.
A medicina atual buscou suas fontes em nossas avós e nossos indígenas, deles expropriou o conhecimento e nas nossas matas se embrenha para fazer lucro, muito dinheiro.
Existe uma cultura que sustenta isso, que sustenta a ideologia da cesárea e das intervenções, assim como a cultura de se tomar mil analgésicos e não suportar a dor.
Essa concepção de dor como algo insuportável me parece muito conveniente tanto a indústria farmacêutica como ao ritmo louco de trabalho ao qual estamos submetidos, em que não nos é permitido seguir o ritmo do corpo.
A segunda razão é o machismo que ainda permeia nossas mentes. Simplesmente somos vistas como seres quebrados e passíveis de problemas, nosso corpo é tratado como uma coisa hiper frágil o tempo todo, e agora além de tudo somos tidas como incapazes de fazer algo para o qual fomos projetadas: o parto.
Como se já não bastasse nos dizerem que somos menos capazes na escola (isso é sério, tem muita pesquisa falando de "fracasso" escolar atribuindo o "fracasso" das meninas a uma certa incapacidade natural, quando na verdade, a maior fracassada é a escola, mas isso é outra história), que somos incapazes de ter força física e nos defender sozinha, que somos incapazes de dirigir bem, incapazes de sentir prazer sexual, incapazes de sermos amigas (ai, como eu odeio quando falam que amizade de mulher não existe!!), agora vem me dizer que eu sou incapaz de PARIR??????
Desde que os primeiros homo sapiens apareceram, as mulheres estão parindo, que palhaçada é essa agora???
Pois é, séculos e séculos de machismo na construção de nossa sociedade, séculos de machismo, construíram nossa educação de hoje, e brigar com isso é, dentro de nossas
próprias mentes, muito, muito, muito difícil, mas é necessário!!
Precisamos nos unir, precisamos conversar, expor tudo o que sentimos, lutar e nos dar força, segurar as mãos umas das outras, e aí levantar a bandeira da dignidade e da vontade.
Na verdade, há umas décadas atrás, parto era uma coisa horrorosa de verdade, feito por pessoas com pouca ou nenhuma experiência em parto. Imaginem uma freira e seus tabus ultra-machistas e anti-sexuais da Igreja numa coisa tão sexual como um parto, é quase um estupro! Nesse contexto, estando ainda numa sociedade machista, médicos de branco te cortando sem sentir nada, frios que nem uma pedra, são realmente melhores!
As pessoas estão bem acomodadas paradas, sem lutar, numa eterna anestesia, num marasmo, numa frigidez, e depois não sabem de onde vem a maior enfermidade de hoje: a depressão.
Sentir é, na nossa sociedade, uma coisa proibida, uma coisa que atrapalha, um problema, um tabu. Dor e prazer são coisas indissociáveis, são consequência de estarmos de coração e corpo e alma abertos para o mundo e focados em nós mesmos.
Hoje fiz ultrassom com uma médica nova, que ficou me perguntando se eu acho que aguento a dor, com um "risinho" de canto. Falei que já há tempos tentava respeitar o ritmo do meu corpo para sentir a dor (no caso, das minhas cólicas de sempre, nada fracas), e que faço um enorme esforço já há uns anos para desconstruir a idéia de dor que temos por aqui. E ela se calou.
O medo sempre foi uma eficiente ferramenta de repressão. Mas busquemos nos nossos sentidos, no carinho, na cumplicidade, a energia para ter coragem.
Isadora Franco tem 22 anos, está grávida de 24 semanas de um menininho, é uma feminista se redescobrindo como mulher neste estado de graça que é a gravidez. Tem um blog também, onde fala de muitas coisas além de gravidez: http://divinastetas.blogspot.com
Adorei! Amei o post!
ResponderExcluirTotalmente apaixonado e apaixonante (clichê, eu sei, mas fazer o q?)
Vou postar no meu blog, com os devidos créditos!
Bjos, Cath da Laura (18 meses, que nasceu em casa com parteira... e olha que eu aguentei a dor!)